O texto de Celso Cruz, também o diretor do espetáculo, não se atém à mera constatação biográfica. O seu Walter Benjamin (1892-1940) ganha margens ficcionais e voa livre em outros horizontes, como o da saudação a Bertolt Brecht, a Karl Marx e a Kafka, pilares abraçados tal amigos na fala do personagem momentos antes de cometer suicídio.
Benjamin aparece encerrado num quarto, numa cama. À sua volta, um tabuleiro de xadrez, uma vela, uma cadeira. E um “kit suicídio” embaixo do travesseiro, uma dose letal de morfina. É a opção para não ser preso pelos nazistas. Estamos na fronteira da França com a Espanha, em 1940. O escritor judeu é cético quanto ao veredicto das autoridades em seu desejo por liberdade.
“Quem escovou a história a contrapelo não precisa de redenção”, eis uma das frases lapidares do texto. Benjamin era crítico contumaz daqueles “tempos cintilantes” que ainda hoje atravancam os processos históricos em muitas sociedades, a ofuscar injustiças.
O Anjo da História guia-se pelos fatos, permite-se metáforas e alegorias com comedimento. Suchara transmite angústia e serenidade do homem que atravessou uma época de trevas e, entre outras heranças, deixou um libelo contra a intolerância. A montagem despojada da Companhia do Cão (SP) não se perde no elogio das idéias e entrevê o indivíduo movido a sonhos, desejos e contradições, como qualquer um em regimes totalitários ou democráticos.
Espetáculo: O Anjo da História
Datas: hoje, dia 21, às 12h (última apresentação)
Local: Mini Guaíra
Parabéns, Valmir, pela cobertura. Muito bom receber dicas balisadas pelo seu conhecimento para nos aventurarmos pelo Fringe.
ResponderExcluirPaula,
ResponderExcluirmuito obrigado a você por acompanhar e se permitir a aventura. um abraço.