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quarta-feira, 25 de março de 2009

Com a cabeça no lugar, Julia Lemmertz estréia Maria Stuart




Poucas horas antes de subir ao palco do Teatro Positivo, onde se apresenta hoje e amanhã, a atriz Julia Lemmertz convesou com o Blog do Festival sobre o espetáculo Maria Stuart, dirigido por Antônio Gilberto.

Você já conhecia esse texto?
Fiquei conhecendo anos atrás durante uma leitura da peça num ciclo de Schiller. O Antônio Gilberto me convidou pra ler e depois colocamos pilha nele pra montar.

Quanto tempo de ensaio até a montagem?
Começamos a ensaiar em outubro de 2008, demos uma pequena paradinha para o Natal e Ano Novo e estreamos em janeiro no CCBB de Brasília, lá fizemos uma pequena temporada de quatro semanas e depois estreamos no Rio de Janeiro, no dia 6 de março.

A peça ainda está em cartaz no Rio de Janeiro?
Sim, a gente fugiu para vir ao Festival. A temporada no Rio é de quarta a domingo. Fazemos as duas sessões aqui em Curitiba (hoje e amanhã) e na sexta já retomamos a temporada carioca.

A peça vai viajar para outras capitais?
Provavelmente irá a São Paulo no segundo semestre.

Quanto de você tem na sua personagem?
Sempre tem, né? Sempre tem muito de você. De alguma forma você cria conexões ou mesmo descobre coisas com as quais se identifica, mas eu acho que um pouco dessa energia e desse senso de justiça, de querer se defender e de ter argumentos para, apesar do sofrimento, do cansaço e da prisão, se defender. Ela tem uma fleuma, uma enrgia que vai além, que tenta conquistar a própria liberdade, se colocar como seu próprio advogado. Me identifico com isso, com esse senso de justiça.

Duas montagens no festival abordam a mesma história de maneiras distintas. O seu espetáculo, que é fiel ao texto original, e Rainhas, que tem um releitura muito particular. O que você pensa a respeito?
Eu sei, já vi o espetáculo, inclusive. É bacana. Sempre acontecem essas coincidências. Quando estávamos ensaiando descobrimos que elas estavam estreando. Mas são duas abordagens bem diferentes. O nosso espetáculo segue o texto de Schiller na íntegra, com a tradução de Manuel Bandeira. O delas tem outra abordagem, é quase como ver um grande workshop sobre o trabalho que estamos fazendo. Mas foi bárbaro ter visto Rainhas. Adoro o trabalho da Cibele Forjaz (diretora) e as duas atrizes são ótimas.

Quantas vezes você já participou do Festival de Curitiba e o que acha de estar aqui?
Não tenho certeza, mas acho que no Festival essa é a minha terceira vez. Eu já fico animada com festival. Acho lindo isso, poder vir para um lugar onde tem tanta gente pra trocar experiências. Fico com pena de não poder ver os outros espetáculos e fazer esse intercâmbio. Porque o sentido do festival, além de mostrar o seu trabalho dentro de um painel grande assim é você também poder trocar umas idéias, ver espetáculos de outras pessoas, outros grupos, outros estados. Mas mesmo assim me anima participar do Festival de Curitiba. A gente não está aqui para vender ingressos mas para dar a cara a tapa. Não nos interessa a bilheteria mas a seara da troca. Respeito muito o Festival. Sei das dificuldades imensas que é fazer um festival desse porte, trazer tanta gente, mostrar esse grande painel do teatro e estou feliz de estar aqui.

Pelo que você perderia a cabeça?
(risos) Olha, acho só por alguma coisa que eu tivesse muita convicção de que não teria outra saída. Mas prefiro manter a acabeça no pescoço pra trabalhar durante a vida. Porque uma vez perdida a cabeça você não tem mais nada que fazer. A Maria perdeu a cabeça porque sabia que ainda assim iria continuar sua história através da morte, através do que esse gesto extremo faria dela. Se ela tivesse morrido no ostracismo não estaríamos fazendo essa peça hoje. Acho que tenho minha cabeça bem no lugar mas é difícil dizer, a gente nunca sabe ao certo o que aconteceria, não é? Eu perderia minha cabeça por alguma coisa que realmente acreditasse, uma coisa que eu lutasse e visse que não tinha jeito mesmo, uma causa, um filho... mas espero não ter que pensar muito sobre isso... Ainda prefiro manter a minha cabeça sobre o pescoço.