Fotos: Gilson Camargo, blog Olhar Comum
http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/?p=1836
Trata-se de uma instalação cênico/sonora/musical/visual, se é que podemos condensá-la ou chamá-la assim. Para incorporar o percurso introspectivo da autora, o fluxo de pensamento que dispensa ação e diálogo, os seis personagens ganham nichos, ilhas em seis cantos do jardim do estúdio do artista plástico Marcelo Scalzo, no bairro São Francisco.
Uma banheira, o tronco de uma árvore, a janela de uma casa, o brinquedo de balanço, o buraco de um porão, um bando de jardim, enfim, são nesses espaços que os performers Chiris Gomes, Christiane de Macedo, Luthero de Almeida, Rodrigo Ferrarini e os próprios Santos e Spoladore surgem sentados, texto em punho, a ler trechos do romance ao microfone. A história é reverberada em caixas de som em vários pontos do local.
É uma leitura encorpada, digamos, atenta ao rumor da língua, seus suspiros referendados já no nome desse coletivo artístico, Companhia do Sussurro.
A noite agradável, o farfalhar das folhagens ao caminharmos pelo jardim, os banquinhos feitos de pedaços de tronco, as ilhas de luzes que atenuam a escuridão no quintal, tudo conspira para a exploração sensorial do lugar, caráter sensório inerente à estrutura de texto de Woolf, na qual os personagens despontam com discursos diretos, uns falando sobre os outros, não entre si. O ir e vir são explorados pelo espectador, estimulado a circular por entre as vozes e microcenários contidos no todo do quintal.
A música também exerce papel fundamental na abertura e no encerramento, com canções que remetem às ondas do mar, numa levada bossanovista com violão e canto ao vivo. Entre os músicos e compositores, estão Barbara Kirchiner, Octavio Camargo, Troy Rossilho, Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost. Um vídeo em preto e branco apresenta imagens em preto e branco relativas ao tema, ondas que abraçam montanhas, crianças na orla etc.
Como está, As Ondas emana ímpeto dionisíaco que talvez ganhe mais relevo no futuro, uma janela de possibilidades para uma autora tão inquieta.
Data: hoje, dia 29, às 21h (última apresentação)
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