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sábado, 21 de março de 2009

Oceano constrói poética circense e pede ajuste - por Valmir Santos

As turnês brasileiras do Cirque du Soleil parecem ter aberto um caminho sem volta. Um circo cada vez mais correto em seus números virtuosos, mas que dá pouca margem a uma certa magia que nos acompanhe após a sessão ou, não raro, por toda a vida. Oceano, que ocupa a Ópera de Arame, esforça-se para construir poéticas em meio ao gigantismo de produção em que também está inserido. E consegue.


fotos: Daniel Sorrentino

A fieira de exímios artistas deixa o público boquiaberto. São homens e mulheres talentosos, excelentes no domínio do ofício. As performances arriscadas refletem o profissionalismo da produção levantada pelos grupos teatrais Pia Fraus e Parlapatões, Patifes & Paspalhões, de São Paulo. Ambos têm históricos de fusões nas duas artes, o circo e o teatro.

Assim, Oceano é um espetáculo de circo, não é teatro. Os códigos estão claros desde o início, já na afluência de adultos e crianças entusiasmados pela noite de diversão segura - e que de fato terão. Os criadores são transparentes nessa proposta, mas pecam justamente naquilo que, espera-se, poderiam fazer toda a diferença com a bagagem teatral que acumulam há décadas.

O problema são os quadros que costuram os números. Ainda que conta gotas diante da alta voltagem dos artistas circenses, essas passagens pedem mais consistência na atuação em favor da construção de sentidos. Não raras vezes, o elenco ocupa a boca de cena de maneira mecânica, sem o encanto e a vivacidade de seus pares circenses nos demais números aéreos ou de solo.



A preparação de voz também deixa a desejar, mesmo com uso de microfones que reverberam as falhas de enunciação. Afinal, são os únicos momentos em que se faz uso da palavra em universo cênico no qual o impacto visual atinge sínteses entusiásticas na cenografia inspirada no fundo do mar, na paisagem de bonecos infláveis, nas rampas de patinação, e por aí vai.

Em termos de plasticidade, a narrativa funciona, conversa com os números circenses conforme roteiro assinado por Beto Andretta, Raul Barretto e Hugo Possolo, este também o diretor artístico do projeto. O enredo, em suma, trata do patinho de plástico do garoto que desaparece na banheira, na hora do banho. Seu dono sai em busca, tira a tampa do ralo e abre uma janela para a fantasia em que a banheira ganha a escala oceânica do título para deixar vir os seres misteriosos tanto quanto lúdicos das águas.



Oceano, enfim, passa pela prova de fogo ao contornar a arquitetura pouco digna à recepção das artes cênicas na Ópera de Arame, a começar pela acústica. Apropria-se belamente do espaço e o torna orgânico e afins com o tema que elege.

Espetáculo: Oceano
Datas: hoje, dia 21, amanhã, dia 22, e dias 27, 28 e 29, sempre às 21h.
Local: Ópera de Arame

2 comentários:

  1. Prezado jornalista, vc está certo ao dizer que é um espetáculo puramente de circo, mas sem dúvida é um ótimo exemplo de novo circo. Sem animais e com muita novidade, muita cor, muitas acrobacias de tirar o fôlego. A pista de patinacao integrada ao cenário também é genial. Achei ainda muito bacana a trilha sonora, com banda de rock tocando ao vivo! o número final é demais. Para todas as idades, eu recomendo...

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  2. Caro Jorge,
    o espetáculo tem muitos méritos e de fato chega a todas as idades. Recomendamos sim. um abraço.

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